Quero começar esse texto falando de G.
Nos conhecemos em 2016, eu com 15 e ela com 13, em um grupo para fãs de SEVENTEEN, grupo de k-pop. Tinha muitas outras pessoas lá e a gente acabou se desencontrando, não éramos próximas, se trouxessem o histórico de conversas de volta, seria possível ver que trocamos pouquíssimas palavras. Mas o tempo passou e nós, eventualmente, graças a certos acontecimentos, por acaso viramos amigas, e depois melhores amigas.
Até então eu não acreditava nessa coisa de ‘melhor amigo’, achava até meio infantil, mas G fez eu mudar de ideia. Hoje sei que esse termo existe porque a definição dele é o que ela era pra mim.
Nos vimos pessoalmente uma única vez, em 2017, quando fomos no show do Dreamcatcher, outro grupo de k-pop, mas essa distância nunca atrapalhou o laço que cultivávamos. As conversas eram diárias e não tinha essa de “Oi amiga, tudo bem?”, a gente pulava direto pro assunto.
Não existia barreira na nossa amizade, se algo precisava ser dito, então dizíamos. Eu sabia que a DM dela era um espaço aberto, sem julgamento, que eu podia ser eu mesma e esperar o mesmo dela. Era tudo muito recíproco.
G sabia que alguma coisa estava errada pelo jeito que eu escrevia ou pelo tom da minha voz nos áudios que eu enviava. Ela me conhecia mais do que eu mesma, ao ponto de não precisar me perguntar certas coisas por já saber todas as minhas respostas. Se não fosse pela distância, eu a acusaria de usar telepatia porque exagero em dizer que até meus pensamentos ela conseguia decifrar.
Tínhamos muito em comum ao mesmo tempo que éramos completamente diferentes, mas não pensem que essa diferença nos afastava, muito pelo contrário, era o que mantinha o equilíbrio na nossa amizade. Ela era cores pastéis e eu preto, ela era boazinha demais e eu bruta demais, ela era água e eu fogo, ela era religiosa e eu cética, ela era uma romântica incorrigível enquanto eu passava longe do amor… Apesar de demonstrá-lo diariamente a ela.
Ela deixou de ser apenas uma amiga virtual pra estar totalmente inserida no meu dia a dia, as minhas amigas sabiam de G e minha mãe e irmã tinham o número dela no WhatsApp. Vez ou outra pessoas da minha convivência me perguntavam: “E a G? Como tá?”.
Infelizmente, a época em que éramos amigas também foi a minha época mais mentalmente conturbada. Deve ter sido muito difícil, mas ela esteve presente em todos os meus episódios. No sentido figurado, ela nunca soltou a minha mão.
G, uma vez, disse que lembrava de mim nesse verso de "My Tears Ricochet".
Foi assim até 2022. Por um destino final inesperado, nos afastamos e paramos de nos falar. Nós não brigamos e até tentamos, umas duas ou três vezes, reatar o que passamos construindo por seis longos anos, mas as paredes já tinham sido demolidas, o teto estava descoberto e o lugar que antes eu chamava de casa não existia mais.
Sinto falta de passar madrugadas juntas rindo das coisas mais bobas. Sinto falta de comentar com ela sobre os comebacks de cada grupo de k-pop. Sinto falta dos áudios podcast dela (que eu não podia acelerar porque a DM do Twitter não tem essa opção). Sinto falta de falar mal de pessoas que nos fizeram mal pelo menos umas quatro vezes por semana. Sinto falta das nossas piadas internas. Eu sinto muito a falta dela.
Nunca me vi numa realidade sem a G comigo, então eu tinha a plena certeza de que nossa amizade seria pra sempre, mas a vida me deu uma rasteira e aconteceu: ela está lá e eu aqui. Isso alugou um triplex na minha cabeça, porque agora eu tenho muito medo de me iludir ao pensar que algo vai ser pra sempre de novo.
Eu sei e sempre soube que “nada é pra sempre”, ainda assim, tem certas coisas que a gente se apega na esperança da exceção, como era com minha ex-melhor amiga, eu pensava genuinamente que com ela seria diferente. Bom, não foi, e esse é o problema.
Fico ansiosa pensando em muitos assuntos, mas pensar no futuro + fim de ciclos me deixa 200% ansiosa. Tenho dificuldade em aceitar que coisas boas chegam ao fim. É horrível viver um ciclo já pensando em como ele vai acabar, mas é o que tem acontecido comigo. Minha ansiedade me priva de aproveitar as coisas, de me apegar em pessoas, por puro medo de sofrer com o fim posteriormente.
Quando paro pra refletir sobre certos momentos, até agradeço por terem ficado no passado. Tem situações que a gente torce mesmo pra acabar e ter certeza de que não é pra sempre é um alívio, mas atualmente estou vivendo momentos tão legais e me dói pensar que um dia isso pode se tornar apenas mais uma lembrança e não mais a minha realidade.
Esse meu medo do fim se intensificou com o afastamento entre G e eu e o início do meu namoro. Tenho tanto medo de perder o meu namorado, que não sei o que faço com a certeza de que nada é pra sempre. Não acho de bom tom estar em um relacionamento pensando no término, então eu evito ficar ponderando sobre, mas se eu estivesse na terapia, esse com certeza seria um tema recorrente.
Entendo perfeitamente que o encerramento de um ciclo não deve ser sempre visto com negatividade: você pode ter saído de um emprego pra ir pra um ainda melhor, por exemplo. Eu não consigo ser assim, mas quero um dia alcançar esse nível de otimismo.