05 outubro 2024

A incerteza do “pra sempre” e o luto pelo fim

Quero começar esse texto falando de G.

Nos conhecemos em 2016, eu com 15 e ela com 13, em um grupo para fãs de SEVENTEEN, grupo de k-pop. Tinha muitas outras pessoas lá e a gente acabou se desencontrando, não éramos próximas, se trouxessem o histórico de conversas de volta, seria possível ver que trocamos pouquíssimas palavras. Mas o tempo passou e nós, eventualmente, graças a certos acontecimentos, por acaso viramos amigas, e depois melhores amigas.

Até então eu não acreditava nessa coisa de ‘melhor amigo’, achava até meio infantil, mas G fez eu mudar de ideia. Hoje sei que esse termo existe porque a definição dele é o que ela era pra mim.

Nos vimos pessoalmente uma única vez, em 2017, quando fomos no show do Dreamcatcher, outro grupo de k-pop, mas essa distância nunca atrapalhou o laço que cultivávamos. As conversas eram diárias e não tinha essa de “Oi amiga, tudo bem?”, a gente pulava direto pro assunto.

Não existia barreira na nossa amizade, se algo precisava ser dito, então dizíamos. Eu sabia que a DM dela era um espaço aberto, sem julgamento, que eu podia ser eu mesma e esperar o mesmo dela. Era tudo muito recíproco.

G sabia que alguma coisa estava errada pelo jeito que eu escrevia ou pelo tom da minha voz nos áudios que eu enviava. Ela me conhecia mais do que eu mesma, ao ponto de não precisar me perguntar certas coisas por já saber todas as minhas respostas. Se não fosse pela distância, eu a acusaria de usar telepatia porque exagero em dizer que até meus pensamentos ela conseguia decifrar.

Tínhamos muito em comum ao mesmo tempo que éramos completamente diferentes, mas não pensem que essa diferença nos afastava, muito pelo contrário, era o que mantinha o equilíbrio na nossa amizade. Ela era cores pastéis e eu preto, ela era boazinha demais e eu bruta demais, ela era água e eu fogo, ela era religiosa e eu cética, ela era uma romântica incorrigível enquanto eu passava longe do amor… Apesar de demonstrá-lo diariamente a ela.

Ela deixou de ser apenas uma amiga virtual pra estar totalmente inserida no meu dia a dia, as minhas amigas sabiam de G e minha mãe e irmã tinham o número dela no WhatsApp. Vez ou outra pessoas da minha convivência me perguntavam: “E a G? Como tá?”.

Infelizmente, a época em que éramos amigas também foi a minha época mais mentalmente conturbada. Deve ter sido muito difícil, mas ela esteve presente em todos os meus episódios. No sentido figurado, ela nunca soltou a minha mão.

 
G, uma vez, disse que lembrava de mim nesse verso de "My Tears Ricochet".

Foi assim até 2022. Por um destino final inesperado, nos afastamos e paramos de nos falar. Nós não brigamos e até tentamos, umas duas ou três vezes, reatar o que passamos construindo por seis longos anos, mas as paredes já tinham sido demolidas, o teto estava descoberto e o lugar que antes eu chamava de casa não existia mais.

Sinto falta de passar madrugadas juntas rindo das coisas mais bobas. Sinto falta de comentar com ela sobre os comebacks de cada grupo de k-pop. Sinto falta dos áudios podcast dela (que eu não podia acelerar porque a DM do Twitter não tem essa opção). Sinto falta de falar mal de pessoas que nos fizeram mal pelo menos umas quatro vezes por semana. Sinto falta das nossas piadas internas. Eu sinto muito a falta dela.

Nunca me vi numa realidade sem a G comigo, então eu tinha a plena certeza de que nossa amizade seria pra sempre, mas a vida me deu uma rasteira e aconteceu: ela está lá e eu aqui. Isso alugou um triplex na minha cabeça, porque agora eu tenho muito medo de me iludir ao pensar que algo vai ser pra sempre de novo.

Eu sei e sempre soube que “nada é pra sempre”, ainda assim, tem certas coisas que a gente se apega na esperança da exceção, como era com minha ex-melhor amiga, eu pensava genuinamente que com ela seria diferente. Bom, não foi, e esse é o problema.

Fico ansiosa pensando em muitos assuntos, mas pensar no futuro + fim de ciclos me deixa 200% ansiosa. Tenho dificuldade em aceitar que coisas boas chegam ao fim. É horrível viver um ciclo já pensando em como ele vai acabar, mas é o que tem acontecido comigo. Minha ansiedade me priva de aproveitar as coisas, de me apegar em pessoas, por puro medo de sofrer com o fim posteriormente.

Quando paro pra refletir sobre certos momentos, até agradeço por terem ficado no passado. Tem situações que a gente torce mesmo pra acabar e ter certeza de que não é pra sempre é um alívio, mas atualmente estou vivendo momentos tão legais e me dói pensar que um dia isso pode se tornar apenas mais uma lembrança e não mais a minha realidade.

Esse meu medo do fim se intensificou com o afastamento entre G e eu e o início do meu namoro. Tenho tanto medo de perder o meu namorado, que não sei o que faço com a certeza de que nada é pra sempre. Não acho de bom tom estar em um relacionamento pensando no término, então eu evito ficar ponderando sobre, mas se eu estivesse na terapia, esse com certeza seria um tema recorrente.

Entendo perfeitamente que o encerramento de um ciclo não deve ser sempre visto com negatividade: você pode ter saído de um emprego pra ir pra um ainda melhor, por exemplo. Eu não consigo ser assim, mas quero um dia alcançar esse nível de otimismo.

8 comentários:

  1. Nana, eu sempre refleti muito sobre as relações e a permanência das pessoas na minha vida. Um contexto breve da situação: meus pais se separaram quando eu tinha 7/8 anos e eu passei a viver um ano com meu pai em um estado, e o ano seguinte com a minha mãe em outro estado. As amizades que eu tinha foram desfeitas aos poucos devido à distância. Lembro que ainda passamos alguns meses trocando cartas, pois a internet ainda não era uma realidade, e as coisas foram minguando. Cheguei num nível de me fechar para as possibilidades de fazer amizades, pois sabia que no final do ano eu não veria mais aquelas pessoas. Me sentia sozinha na escola, mas todo ano alguém conseguia quebrar essa barreira e eu fazia amizade com alguém. Sim, boa parte dessas amizades não resistiram ao ano seguinte. Mas guardo na memória muita coisa, e sou grata, pois hoje eu entendo que existe um ciclo das coisas e nada é para sempre. Existem amizades mágicas que aparecem para ensinar algo ou deixar uma memória bonita. Existem as amizades que ficam tá? Elas existem sim. Mesmo nessa maluquice de vida eu mantenho amizade com pessoas que conheci na oitava série! Realmente acho que você precisa fazer as pazes com a noção de que tudo muda, nada é eterno e tá tudo bem. Desde que a gente dê o melhor de nós e aproveite cada momento. Frases motivacionais para você: "Até onde posso, vou deixando o melhor de mim. Se alguém não viu, foi porque não me sentiu com o coração" e um conceito de filosofia que li num livro durante o ensino médio e pasme, tatuei para não esquecer: "Panta Rei" que significa algo como "tudo se transforma, tudo muda, tudo flui".

    Garota do 330

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    1. De verdade? Entendo parcialmente sobre esse momento das coisas minguarem e a amizade acabar. Morei no mesmo condomínio quase a minha vida toda e o pessoal que eu costumava ver praticamente todo dia não sei nem por onde anda hoje em dia, mas até aí foi natural da vida mesmo. Por incrível que pareça, tenho uma amizade que me acompanha há mais de 10 anos, mas, por não sermos tão próximas, acabo nem considerando tanto. São coisas da vida mesmo, como ansiosa, tenho que aprender a focar mais no presente e me preocupar menos com o que vai acontecer lá na frente.

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  2. Olá Nana, senti atração pelo seu blog e acabei comentando!
    Entendo como é triste passar por uma situação como essa, como desejamos por aquela relação que dure para sempre. Tenho um ponto de vista sobre isso, se alguém vai embora, é porque outro alguém está para chegar. Essas lembranças que vcs cultivaram foram momentos bons, que vai estar guardado no seu coração...
    Espero que fique bem.

    Kiss
    Tsuki no Shita

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    1. Concordo contigo, acredito também que quando alguém vai embora é pra dar espaço pra outro ciclo se iniciar. Obrigada pelo comentário <3

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  3. Oi Nana, tudo bem?
    Primeira vez visitando esse cantinho e adorei o texto longo, sou fã ♥
    Já sofri muito com afastamentos e hoje diria que sofro um pouco menos rs
    Não deixei de sofrer, mas aos pouquinhos venho entendendo que a impermanência faz parte da vida e que, principalmente, eu não posso controlá-la. Sempre tentei manter as pessoas na minha vida, mas às vezes o custo era muito alto, e não valia a pena, porque por muitas razões não fazia mais sentido. Entendi que, o que é natural e faz sentido, permanece. Isso foi me trazendo mais paz :)
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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    1. Acho que é muito sobre isso também, tem que fazer sentido. Não dá pra se apegar ao passado quando alguém não condiz mais com você no presente. É saber deixar ir sem culpa mesmo.

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  4. Olá, Nana!
    Eu tinha uma amizade assim com uma prima que era como irmã para mim. Mudei de cidade e fomos naturalmente nos distanciando.
    Aprendi muito a lidar com o desapego estudando sobre espiritualidade.
    Acho que a melhor coisa é manter o pensamento de tudo o que foi bom e soltar ao vento. É difícil ser otimista quando está doendo, mas acho que tudo tem um propósito. Ela esteve lá quando você precisou e quando cumpriu seu papel na sua vida, e então abriu espaço para outras novas experiências.
    Espero que seu coração fique em paz com o tempo.
    Beijos!

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    1. Interessante esse ponto de vista. Muito tranquilizante pensar que ela me fez entender muita coisa e deixou o terreno preparado pra que outras pessoas pudessem entrar na minha vida depois dela.

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