Quero começar falando sobre MBTI. Você, muito provavelmente, já ouviu falar sobre né. Se não, MBTI é um teste de personalidade que a maioria das pessoas faz no 16Personalities, e você pode obter um entre 16 resultados, como ISFJ, ENTP, INTJ e vários outros…
Bom, você sabia que MBTI foi desenvolvido por uma tal de Katharine e sua filha, e que elas se basearam em uma teoria do Carl Jung? Isso foi na época da Segunda Guerra Mundial, e elas pensaram que seria um bom modo de direcionar as pessoas pra ocupações mais adequadas de acordo com suas preferências psicológicas. Mas não sei dizer até onde ou se funcionou.
A questão é que a teoria do Jung é bem mais detalhada do que a teoria do MBTI. O que mãe e filha fizeram não foi bem desenvolver uma teoria; elas só simplificaram o que Jung disse. Elas não expandiram a teoria com novas ideias ou pesquisas. Em vez disso, pegaram os conceitos básicos e reorganizaram pra um modelo mais comercial e prático.
Tá, mas então como cada teoria funciona?
Jung analisava a personalidade das pessoas usando funções cognitivas. Não vou me prolongar e falar sobre todas aqui (são oito no total), mas um exemplo de função cognitiva pode ser a de Julgamento, que é como tomamos decisões. Dentro disso, temos Te (Pensamento Extrovertido), que se baseia na lógica objetiva e na eficiência externa; Ti (Pensamento Introvertido), que analisa conceitos internamente para encontrar coerência lógica; Fe (Sentimento Extrovertido), que valoriza harmonia e o impacto emocional no ambiente externo; e Fi (Sentimento Introvertido), que se baseia em valores pessoais internos para tomar decisões.
Cada pessoa tem uma função dominante, que é a mais natural e usada com mais frequência. As outras funções (auxiliar, terciária e inferior) desempenham papéis complementares, mas são menos desenvolvidas.
Pra determinar o seu tipo, você precisa basicamente ler sobre as funções cognitivas e identificar o que mais reflete quem você é. No meu caso, eu sou ISTP, e minhas funções são Ti-Se-Ni-Fe, respectivamente. Ti é a minha dominante, e isso significa que essa é a minha principal forma de pensar. Resumindo, eu avalio as coisas com base na minha lógica interna e busco coerência em tudo. Enquanto isso, Fe, que é o oposto de Ti, é a minha função inferior. Isso significa que essa é a minha função menos desenvolvida, e eu tenho dificuldade em lidar com a harmonia social e as emoções dos outros.
Cada tipo tem as suas funções, e cada uma delas segue uma lógica, uma ordem e tem uma explicação dependendo da posição em que ela está.
Complicado? Um pouco. Foi exatamente o que a Katharine e a filha dela pensaram. Por isso, elas decidiram pegar todo esse conceito criado por Jung e simplificar. Em vez de analisar alguém com oito funções cognitivas, elas analisam por:
- Introversão (I) vs. Extroversão (E)
- Intuição (N) vs. Sensação (S)
- Pensamento (T) vs. Sentimento (F)
- Julgamento (J) vs. Percepção (P)
E nesse caso é beeem mais fácil. Você só precisa escolher a letra que mais diz sobre você. Ou seja, se você se percebe como extrovertido, vai pela intuição, é mais sentimento e gosta de planejar, por exemplo, você é ENFJ. Mas, lembrando que isso é de acordo com o sistema MBTI criado pela Katharine e sua filha. Se você usar ENFJ na teoria de Jung (Fe-Ni-Se-Ti), vai ler uma análise totalmente diferente e pode acabar não se identificando.
Agora, um plot-twist: tudo isso é considero como pseudociência (°ロ°) ! Sim, tanto a teoria complexa de Jung quanto a versão simplificada da Katharine e sua filha são pseudociências. Mas por quê? Ciência usa dados e fatos. Logo, pra uma teoria ser ciência de verdade, é preciso fazer testes e experimentos, e, no caso do Jung, a teoria tem como base a opinião e observação dele.
Só que ser uma pseudociência não necessariamente invalida a teoria. Embora seja considerada assim no contexto acadêmico-científico, a teoria de Jung pode ser uma ferramenta útil em psicologia e no autoconhecimento.
De qualquer forma, na pandemia, em 2020, eu fiquei vidrada nesse assunto e passava horas e horas estudando, lendo e falando sobre MBTI “de verdade”. Fazia inúmeros tweets reclamando do site 16Personalities, falando como ele era um desserviço pro estudo de tipos psicológicos e que, se as pessoas realmente quisessem descobrir o tipo delas, teriam que usar a teoria de Jung. Toda vez que eu via alguém colocar ISTJ ou qualquer outro tipo na bio, eu logo julgava e pensava: “Certeza que essa pessoa tirou isso daquele site horroroso.” Mas, hoje, quase 5 anos depois, percebo que it was not that deep.
É aí que entra o ponto desse post.
Enquanto eu tava no Twitter, vi esse print rodando a tml com pessoas julgando o tweet e quem fez ele. Mesmo que eu não vá criticar a pessoa, apaguei o user pq não quero expor ninguém de um jeito que pareça negativo. Enfim… Ler as respostas no tweet me fez refletir muito sobre como parecemos chatos e sabichões quando comentamos sobre o que estamos estudando sem que ninguém tenha perguntado antes.
Quando a gente adquire uma informação nova sobre algo, passamos a enxergar o mundo de um jeito diferente e, às vezes, destruímos o que antes era pra ser algo divertido. Analisamos de uma forma mais técnica e crítica, procurando por erros em detalhes.
Assim como no caso da pessoa do tweet, o teste de MBTI no 16Personalities perdeu a graça pra mim porque passou a ser só mais um teste do BuzzFeed, enquanto a teoria do Jung era o que eu enxergava como correto e queria que todo mundo visse da mesma forma.
Mas, gente, convenhamos: meio que foda-se, né? E daí se o teste é uma versão simplificada de uma teoria mais complexa? Deixa as pessoas se divertirem, ora bolas! Bacana que eu me propus a estudar mais a fundo, só que não é por isso que as outras pessoas têm que fazer a mesma coisa.
Não sei qual foi a intenção da moça do tweet (eu conferi os pronomes, não se preocupem). Pode ter sido um desabafo, pode ter sido aquele jeitinho mediciner de se exibir, pode ter sido só uma curiosidade sobre uma informação que ela recém aprendeu ou pode ter sido qualquer outra coisa. De qualquer forma, não podemos negar que tanto ela como eu estamos no mesmo barco.
Pensar sobre tudo isso me lembrou da Mari Krüger. Ela é bióloga (além das outras 500 profissões que a diva tem) e tá sempre viralizando nas redes sociais com seus vídeos desmistificando crenças que temos, como quando ela disse que colocar sal embaixo da língua não ajuda a subir a pressão. Vejam o conteúdo dela, é muito bom. Voltando ao assunto, me lembrou dela, porque, dos vídeos que assisti, ela quase sempre começa ou termina o vídeo pedindo desculpas por ser a pessoa chata que vai contar a verdade pra gente. Eu imagino que muita coisa deve ter perdido a graça pra ela também.
Buscar conhecimento é muito importante, ainda mais com o tanto de fake news que vimos por aí, mas tenho a impressão de que ficamos cada vez mais ranzinzas e cada vez menos tolerantes pra essas coisas bobas, como uma touca de crochê imitando o cérebro. Parece que não deixamos os outros se divertirem. É sempre um "Você sabia que..." diferente, que ninguém perguntou (o caso da Mari é diferente, btw).
Não sei se vocês lembram, mas teve uma época que o Brasil tava passando por um caos na política (quando é que não tá?) e muita gente falava sobre querer ser como os ignorantes, que não sabem de nada e parecem mais felizes, sem nenhum estresse. Embora eu não concorde muito com esse pensamento, é outro ponto que acrescenta nessa minha reflexão.
Pra finalizar, acho que preciso (precisamos) aprender que obter conhecimento pode vir acompanhado de leveza e que nem tudo precisa ser analisado e ser 100% accurate. É possível repassar informação sem acabar com a diversão dos outros e com a nossa (ᵔ◡ᵔ)
Eu não sou nenhuma especialista em psicologia ou Jung. Posso ter falado besteira porque faz muito tempo desde a última vez que estudei sobre, então pode me corrigir! Acho que não respondi à pergunta do título nesse post. De qualquer forma, não era a minha intenção. Mas, se você souber a resposta ou ter uma ideia dela, fique à vontade pra expor nos comentários.