11/07/2025

Escrever ainda vale a pena

Eu odeio tudo que eu escrevo porque, no fundo, to sempre escrevendo pros outros, não pra mim. E admitir isso é um alívio, porque largo um peso que tava me sufocando faz tempo. Às vezes, só queria apagar tudo que já postei, começar do zero, com outro jeito de falar. Mas não apago, meio que pra manter quem eu fui ali e, sendo sincera, pra não me arrepender também.

George Orwell escreveu, numa essay chamada Why I Write, que um dos motivos pra ele escrever era puro ego. Ele disse que escritores querem parecer inteligentes, serem comentados, serem lembrados depois que morrem. E, depois que eu li isso, comecei a me perguntar: por que eu escrevo? Eu também quero ser lembrada — ele não tava errado. Uma parte de mim escreve esperando que alguém leia, sim. Mas será que isso é o bastante pra me manter escrevendo toda vez que sinto vontade de colocar palavras no papel (ou na tela)?

A primeira coisa que me vem à cabeça é: eu quero criar coisas. Quero guardar memórias. Quero ter um lugar pra voltar no tempo, ver quem eu era e perceber que mudei. Mas... dá pra fazer isso escrevendo pros outros? Tipo, sejamos reais: é mentira dizer que a gente escreve sem querer que leiam. Mas talvez a gente devesse escrever como se ninguém fosse ler. Porque aí a gente escreve a verdade — a nossa verdade — e tem uns minutinhos de autoconhecimento de verdade.

A gente passa o dia lendo: tweets, legendas de fotos, legendas de filmes, mensagens... Mas quase nunca para pra pensar: "E se eu criasse algo também?" A gente precisa sair do modo scroll infinito e começar a criar mais do que consumir. Cada pessoa tem seu próprio processo. Você não precisa ter os mesmos motivos que eu, nem os do Orwell, nem os da Joan Didion, que, aliás, resumiu tudo perfeitamente: “Eu escrevo totalmente pra descobrir o que eu to pensando, o que eu tô vendo e o que isso tudo significa.” E quer saber? Nem precisa ter um motivo profundo, se é algo que você ama. Escrever é tipo um lugar pra nossa mente descansar, se perder um pouco, deixar a criatividade rolar. E isso já é suficiente.

Eu não acho que a culpa é só das redes sociais — mesmo que elas tenham sua parcela. Mas, tipo, não precisa deletar tudo se isso não fizer sentido pra você. Tenta só trocar um pouco do tempo de tela por tempo de criação. Se acostuma com o tédio. Escreve sobre isso. Escreve tudo. Porque o que a gente cria e guarda acaba ganhando mais valor com o tempo. A gente começa a ver aquelas palavras com outros olhos, porque lembra do que sentiu, das lembranças, das ideias aleatórias que teve, da curiosidade que deu origem àquilo.

Mas aí vem a pergunta: como reconectar com a criatividade? O que escrever? A primeira coisa que falam é: “Acha um nicho, se encaixa numa caixinha. Tenha uma estética.” A Anna Howard disse que isso até faz sentido, porque a internet é tão rápida que você precisa mostrar rapidinho quem é, chamar atenção e fazer alguém ficar. E, assim... ela tem razão.

Só que o mais libertador é: escrever não precisa ser um ensaio todo certinho. Não precisa ser bonito. E, principalmente, não pode te travar. Pode ser só um lugar pra jogar links, rabiscar ideias, guardar frases ou escrever duas linhas sobre o que você tá sentindo. Começa um projetinho e vai: um diário, um blog, um bullet journal, uma fanfic, o que for.

“Ao invés de criar metas que parecem tarefa de casa de um coach sem graça, começa a colecionar projetos como se fossem cartas Pokémon. Deixa seus interesses se polinizarem como se estivessem numa rave de abelhas.” — Michelle Pellizzon Lipsitz, em be more confusing, actually

“O que torna pessoas que vivem de projetos tão interessantes é o fato de que elas seguem o que amam. Preferem mil vezes falar da fanfic gigante que tão escrevendo sobre uma série aleatória do que gastar energia tentando seguir tendência ou agradar geral. Você nem conhece a série? Ótimo. Elas vão amar te contar sobre ela.” — Anna Howard

Escrever é como qualquer outro hobby. E, como qualquer hobby, não vai ser sempre um mar de rosas. A gente acha que hobby tem que ser relax, né? Mas não é bem assim. Principalmente com a escrita. Tem hora que bate insegurança, dúvida, tipo: “To usando as palavras certas?”, “To dizendo o que realmente quero dizer?”, “Alguém vai entender isso?” E, sinceramente? A lista só cresce... E são exatamente essas dúvidas que tão passando pela minha cabeça enquanto escrevo isso aqui.

Eu realmente acho que se perder em rabbit holes é um dos jeitos mais legais de achar inspiração. E, mais que isso, é o que dá gás pra continuar. Uma hora ou outra, você vai querer dividir um pensamento, anotar uma ideia, jogar uma opinião pro mundo.

“Tem algo especial em trabalhar num projeto seu. Não dá pra dizer que você fica feliz exatamente. A palavra certa seria empolgado, ou envolvido. Você fica feliz quando as coisas vão bem, mas na real, isso nem sempre acontece. Quando to escrevendo, a maior parte do tempo to preocupado e confuso: preocupado que o texto fique ruim, e confuso porque to tentando achar uma ideia que ainda não enxergo direito. Será que vou conseguir colocar isso em palavras? Geralmente sim, se eu tiver tempo. Mas nunca tenho certeza; as primeiras tentativas quase sempre falham.” — Paul Graham, em A Project of One's Own

Escrever de verdade, com erro, com dúvida, com alma humana, virou quase um ato de resistência. Tá tudo tão editado, tão artificial, que até postar uma bobagem hoje em dia parece um grito. É tentador usar IA pra tudo, mas tem coisa que tem que vir da gente. Mesmo que ninguém leia. Escrever é uma prova de que ainda tem gente que se importa.

Esse texto é um compilado de pensamentos e citações diretas de vídeos que assisti na última semana, todos estão linkados a seguir pra você poder assistir:

Um comentário:

  1. oie nana!

    me deixou bem pensativa agora lendo sua postagem, e achei extremamente interessante seu ponto de vista. Acho que no meu caso parece que está escrevendo pros outros, mas na verdade faço pelo meu ego mesmo, porque afinal sou a pessoa que gosta de chamar atenção, queria que notasse da minha existência, e não sei por quê não tenho vergonha de revelar isso haushauhsah

    Tsuki no Shita
    Kiss

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